Portfólio

Sunday, December 26, 2010

Palavra (En)cantada

Precisa dizer que é bom?

Querendo muito falar Clarice por aqui, muito em breve.

Thursday, December 23, 2010

Gosto de drama.

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto "Os Três Mal-Amados"


Sunday, November 28, 2010

Aquilo que chamamos de sensibilidade, sentimento, algo assim, anda se afastando das minhas mãos. Sempre tive medo de me tornar seca, árida, isso sempre se mostrou uma tendência em mim. E anda acontecendo, independente daqueles que ainda se importam, eu demorei de perceber. Mas não tenho retorno. Eu não sei se quero voltar para mim mesma.
Hoje, olhando para longe, posso dizer que fiz uma única coisa na qual me arrependo. E não é nada pouco. Mas funciona assim, erramos ali, consertamos aqui. Posso ter me atrasado um pouco, porém acho que há tempo ainda para pensar...

Monday, October 04, 2010

Sempre falo demais coisas desnecessárias, penso demais as mesmas coisas, choro demais lágrimas em vão. Escuto música bem alto para abafar o som do que eu sinto. Não que seja lá coisas absurdas, mas incomodam um tanto, incomodam porque é de leve e é insistente, não sai, não vai embora, permanece. Talvez porque eu queira, porque eu deixo. Talvez porque eu me sinta melhor com isso, talvez porque eu precise me sentir de alguma forma, saber que eu ainda estou aqui, ou lá, no outro.

Monday, September 27, 2010

Será que é importante mesmo gritar as coisas que quero? Será que é importante fazer alguém ouvir minha angústia? A angústia não é minha? Para que compartilhar?

Sunday, September 26, 2010

=x

Já não tenho forças para gritar por algo que acredito, a minha energia não pulsa mais em minhas mãos, minha garganta anda inflamada a mais de duas semanas, de certo por estar engasgada a bem mais do que isto. O que temo é muito mais do que eu consigo enxergar, muito além do que eu posso sentir. Para ser bem franca, ando desistindo de muita coisa, ando seguindo meus erros, e dizendo por aí que estou fazendo coisas certas, mas não estou. Ando querendo ir embora ou me trancar em um quarto. Porém agora também, sinto que está tudo muito mais fácil, já que estou inerte, que voltarei a ser muda.