Portfólio

Monday, October 24, 2011

Muito cedo na minha vida foi tarde demais.

"Muito cedo na minha vida foi tarde demais. Aos dezoito anos era já tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele abrandaria e retomaria o seu curso normal. As pessoas que me tinham conhecido aos dezessete anos aquando da minha viagem a França ficaram impressionadas quando me voltaram a ver, dois anos depois, aos dezenove anos. Conservei esse novo rosto. Foi o meu rosto. Envelheceu ainda, evidentemente, mas relativamente menos do que deveria. Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos, conservou os mesmos contornos mas a sua matéria está destruída. Tenho um rosto destruído."

Trecho Marguerite Duras, O Amante.

Tuesday, October 18, 2011

"Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada." (H. Hilst)

Ridículo mesmo é dedicar-se tão intensamente a algo, para depois ver escorrer por entre os dedos o nada. Porque nada? Qual o objetivo de algo se transformar em nada? Existem pessoas que acreditam que tudo se transforma, nada se perde, nada vida pó, ou seja lá o que isso for (gosto do pó, porque o pó é um nada que é de certa forma concreto, materializado). Mas eu não, eu vi algumas de minhas energias, alguns dias, vários dias, semanas, meses, anos, alguns sentimentos, uns esforços, sendo transformados em um nada. Eu ainda não sei definir se de certa forma isso pode ser positivo, algo como, antes o pó do que o desgosto, antes nada do que ... (não sei categorizar). Repito, ridículo mesmo é essa transformação de algo em pó. Sem mais.

Friday, May 27, 2011

Sunday, April 10, 2011

Citando clichês, o que é novo assusta.

Friday, January 28, 2011

"Por enquanto estou inventando a tua presença, como um dia também não saberei me arriscar a morrer sozinha, morrer é do maior risco, não saberei passar para a morte e pôr o primeiro pé na primeira ausência de mim - também nessa hora última e tão primeira inventarei a tua presença desconhecida e contigo começarei a morrer até poder aprender sozinha a não existir, e então eu te libertarei. Por enquanto eu te prendo, e tua vida desconhecida e quente está sendo a minha única íntima organização, eu que sem a tua mão me sentiria agora solta no tamanho enorme que descobri."

Trecho - Paixão Segundo GH, C. Lispector

Sunday, January 23, 2011

É tanto mundo para ser descoberto, e o que eu quero é tão pouco, é tão menos que o tando do mundo que tem para se revelar para mim.