Portfólio

Friday, June 29, 2007

O retrato de uma cidade antagônica.

A cidade do século XXI ganhou novos valores e novas conotações simbólicas. O caos urbano, a velocidade dos automóveis e a vida agitada das metrópoles atuais, aliados a falta de segurança das ruas, determinaram um novo ambiente urbano, desfavorável para o desenvolvimento da vida social nos espaços públicos. Esse novo cenário abre margem aos lugares que se voltam para si e negam o ambiente comunitário.
Com o capitalismo entranhado na sociedade atual o espaço ganha uma forma direcionada para a utilização econômica. Atualmente quando se pensa em um local, pensa-se na função financeira que ele desempenha, na sua utilidade capitalista. Neste contexto, os espaços públicos, que são em sua maioria locais de convívio, de encontro coletivo e de relação com o outro, estão sendo reestruturados, por serem locais não rentáveis.
Todas essas prerrogativas criam base para o surgimento de ambientes privados como local de convívio: Shoppings Centers, hipermercados, entre outros. Eles estão ligados intrinsecamente à lógica do consumo, seja ele cultural ou comercial, que dentro desta lógica moldaram a cidade do século XX e que ainda reverberam sobre a cidade que adentra o século XXI.
No Brasil, as políticas públicas pouco valorizam a construção e a criação de espaços públicos, voltando seus esforços e incentivo à criação de espaços mais rentáveis economicamente, principalmente para o entretenimento “semi-público” ou privado. Aliado a isso está a necessidade de uma parte da população de se afirmar enquanto algo que possui condições financeiras para consumir o que é visto, criando uma lacuna no ambiente público – voltado tão somente para o entretenimento, encontros e práticas comerciais de pequeno porte.
Na dinâmica capitalista o trabalhador, aquele que possui uma jornada diária de 8 horas ou até mesmo superior, não possui forças vitais para fazer parte da dinâmica do espaço voltado para o convívio social, o que também influi na desertificação do espaço publico, enquanto centro de lazer.
Outro problema é a própria forma arquitetônica que o local público adquire em sua construção. A explosão da escala nos ambientes criou uma arquitetura “dinossaurica”, vertical, gerando espaços frios e pouco acolhedores, que dispensam qualquer relação com os sentidos e sentimentos humanos. Nessa reconfiguração de espaços, as praças, antes entendidas como lugares de permanência, ganharam uma conotação de local de passagem, quase sempre direcionado para o consumo. O ser humano é visto como um ser consumista, uma máquina que compra.
A partir do momento em que o indivíduo não possui condições econômicas para fazer parte da dinâmica do mercado, ele é visto como um corpo estranho, que precisa ser ignorado e até mesmo retirado e barrado de determinados espaços públicos. Uma vez que a exclusão é feita, degringola num círculo de ações negativas, aumentando o sentimento de medo da população.
Em uma cidade grande, o número de pessoas desconhecidas é consideravelmente assustador, existe uma espécie de aglomeração de pessoas em uma determinada área, na qual não se consegue alcançar uma aproximação mínima. Com o aumento do número de desconhecidos, aumenta-se a preocupação individual. A segurança do espaço público acontece na medida em que existe uma observação involuntária, por parte dos indivíduos, que definem o manto urbano, esta segurança está diretamente ligada a quantidade de olhos que se fazem presentes nesses lugares. Havendo pessoas, existirá segurança.
O que é interessante perceber é que enquanto o espaço público está perdendo o seu valor social, estão se abrindo lacunas na estrutura da sociedade.

1 comment:

Anonymous said...

just dropping by to say hi